sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Introdução

A capacidade de abstração humana é intrigante, se fizermos uma breve retrospectiva, em qualquer área do conhecimento poderemos constatar duas coisas: primeiro uma evolução dinâmica e constante, segundo a divisão de tarefas e a simplificação buscando conforto. Tomemos para análise a evolução da escrita.
Hoje na maior parte ocidente, os caracteres que você leitor compreende como sendo a representação gráfica da fala, evoluiu de pinturas rupestres deixadas em cavernas por nossos ancestrais, mesmo em línguas diferentes existem caracteres com o mesmo desenho e conceito, como as vogais, e muitas das nossas consoantes, além da semelhança fônica dos numerais (um, deux e trois no francês, one, two e tree no inglês, uno, duo e tre em italiano).
A escrita é uma invenção relativamente nova, se comparada com a fala e também passou por uma divisão de tarefas e uma simplificação considerável; dos escribas que além de conhecedores de sua cultura e detentores das técnicas de registro, também eram uma espécie de administradores públicos, responsáveis pela contagem dos grãos, anotarem acontecimentos, registrar as cheias do Nilo, calcular impostos, escrever contratos, atas, cartas, e fluxo do armazém; aos designers tipógrafos pós-modernos, que apenas concentram-se no desenho das letras visando sua melhor visualização ou não nos materiais que as através deste ou daquele processo de impressão.
Da pena ao prelo, do metal ao digital, da tinta ao laser, tantos processos, tantos profissionais e uma quantidade de conhecimento que uma única mente não é capaz de concatenar. Dito assim parece que é difícil invés de simples como anunciado no primeiro parágrafo, devemos lembrar-nos do outro ponto, a divisão, a divisão de tarefas é que simplifica as coisas, pois permite a um profissional ater-se em um aspecto do processo, explorando-o e levando-o a um nível melhor.
A letra, símbolo visual, parte abstrata da comunicação humana, elemento de fixação do pensamento, registro de uma época. A letra é um signo que evoluiu naturalmente, sofreu muitas metamorfoses até chegar aos dias atuais e assim continuará permanentemente.
"Nunca andar por caminhos já trilhados", alertava Albert Einstein para a necessidade de inovar, é com esta intenção que apresentamos este projeto, uma monografia com um ponto de vista pouco abordado por estudiosos da tipografia. Um olhar para o Leitor Brasileiro.
Pensando nos objetivos comunicacionais de uma empresa com target no público brasileiro, causa estranheza a utilização de conceitos importados sem a devida aferição da validade desses conceitos frente a percepção do público alvo.
Não é objetivo desta pesquisa desenvolver mais uma fonte para o banco de dados já existente ou elaborar mais uma paleta classificatória, a meta é simplesmente equalizar que estilos de fontes aos públicos de nosso país, baseando o estudo em fontes e classificações já existentes, saber se o legível/ilegível do nosso povo confere com os conceitos importados, se transcendemos esses conceitos ou não, e por isso a necessidade deste estudo.
Historicamente as novas geometrias das letras surgiram como resultado de aprimoramentos técnicos para a questão da gravação, a posterização da cultura e registro histórico. Os artesãos/escribas tinham obrigação de conhecer não somente a escrita, mas o processo de manufatura dos meios que "arquivariam" os dados de sua cultura. Os textos e gravuras se aplicados em pergaminhos, papiros, argila, pedra ou outros materiais não importava, os artesãos/escribas tinham que produzir também o ferramental para a gravação, sendo as ferramentas mais comuns: as cunhas, os cálamos (pincéis), as talhadeiras e martelos, os cinzéis e os estiletes. Devemos ressaltar que essas ferramentas tinham limitações físicas de tamanho, forma e volume, além de depender e muito da habilidade de quem as utilizavam, frente à rusticidade dos materiais.

... Durante séculos, a tipografia foi determinada por ferramentas e materiais. Punções feitos à mão produziram a forma característica que ainda admiramos, por exemplo, na fonte garamond. (De Hermann Zapf and His Design Philosophy, Society of Typographic Arts: 1987, In Claudio Ferlauto, 2005: 56.)

Hoje com o advento da informática, mais precisamente dos computadores pessoais, houve uma explosão na quantidade de fontes e da geometria das mesmas, pois, quase não há limites para a hibridização/reprodução/gravação das fontes e imagens, há um pouco mais de uma centena de tipos de mídias, as ferramentas para gravação são das mais diversas e mais precisas do que nunca, ampliamos enormemente as maneiras de comunicar, somado a possibilidade da instantaneidade, envio de fotos e textos, uso dos emmoticons, filmes.

A produção de tipos requeria um trabalho extremamente minucioso e mão-de-obra específica – inicialmente feita por ourives, que detinham o conhecimento no manuseio de buris em metais duros, ...o processo começa com o entalhe de um caractere, em um tamanho específico com desenho invertido sobre a face de uma barra de aço... Terminado, o aço era temperado para endurecer e então puncionado sobre uma placa de cobre – a matriz. Esta era posicionada em um molde e os caracteres eram fundidos um a um... (Luciano Cardinali, 2004: 8)

Pensar nas letras apenas como uma representação gráfica da fala, não basta, como tantos autores já perceberam incluindo pesquisadores brasileiros, autores como Herman Zapf, Giambattista Bodini, Eric Gill, Priscila Farias, Ana Cláudia Gruzinsk, Norberto Gaudêncio entre outros. Correntes de pensamentos, movimentos culturais que marcaram época e as limitações técnicas de reprodução dos textos também deixaram marcas profundas na morfologia de nossas letras.

Os meios de produção e as relações de produção artísticas são interiores à própria arte, configurando suas formas a partir de dentro. "Nessa medida, os meios técnicos de produção da arte não são meros aparatos estranhos à criação, mas determinantes dos procedimentos de que se vale o processo criador e das formas artísticas que eles possibilitam". (Plaza, 2001:10; in Norberto Gaudêncio Junior, 2004:44)

Percebemos na leitura das obras que abordam a tipografia, uma preocupação cíclica, hora com uma ruptura dos conceitos utilizados na época, hora de um resgate quase saudosista de velhos conceitos. Sendo um processo de reciclagem contínuo, somente possível através do cruzamento com outras áreas do conhecimento humano, às novas técnicas de produção/impressão e somados a segmentação das manufaturas em áreas especializadas. Transformando o que tratava ser uma área de extremo experimentalismo, em um processo técnico/científico, que hoje após a 2ª revolução industrial e o advento da informática, ampliaram-se as possibilidades artísticas, técnicas, a precisão dos processos, por outro lado há também o retorno das características experimentalistas, pois hoje qualquer pessoa pode manipular uma fonte.
O estudo das fontes vem sendo desenvolvido em várias linhas de estudo, quanto a sua origem, seu autor, sua época, como foi e é hoje criado e manipulado ou como o computador pode ser ensinado a ler, entre outras linhas. A trilha que iremos percorrer irá cruzar com alguns desses temas e de outras áreas, que serão abordados oportunamente com a profundidade necessária para subsidiar o andamento da pesquisa em busca do leitor brasileiro.
Deste ponto em diante chamaremos as famílias tipográficas de fontes, entenderemos que é o conjunto de símbolos gráficos utilizados para representar as letras e suas variações, acentos, números assim como seu estilo morfológico.

3 comentários:

Zemarcos Taveira disse...

Salve, Marcão. Passei para deixar um oi! Abração.

Nathália Bragalda disse...

Fala Markinho!!! Vim agradecer seus comentários! Obrigada por tudo! Um super abraço!

Unknown disse...

Começou muito bem. Parabéns!